quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Relatório da visita realizada no dia 18 de novembro de 2012. Por Doutora Maria Pigriça.

Este último domingo foi daqueles que a gente sai do hospital e fala: UFA!!! (E percebe que toda sua energia ficou, de bom grado, com os pacientes). E mesmo sendo tão cansativa, você percebe que valeu a pena cada segundo e que é uma pena que tenha acabado. Dá pra começar tudo de novo?
Não dá pra viver tudo de novo ao vivo e a cores, mas dá pra re-viver tudo de novo pelas palavras. E é isso que eu vou tentar fazer, porque visita assim é daquelas pra guardar no quadro da memória e não esquecer jamé!

Logo na hora das preces eu já percebi que ia ser uma visita daquelas que inspiram a semana toda. Fizemos a prece e ainda na brinquedoteca já começamos a ficar meio bobo-alegres, daquele jeito que é difícil de segurar. Estávamos eu (Dra. Maria Pigriça), o Dr. Pulguinha, o Dr. Zelopim, a Dra. Judite e a Dra. Xereta (depois chegaram o Dr. Trapinho, a Dra. Margarida e a Dra. Pontilha).
Piada sem graça pra um lado, brincadeira boba de outro, até que o Zelopim tira um extintor de incêndio do bolso do jaleco pra apagar nosso fogo. Péssima idéia: o extintor jogava água de verdade, e o Pulguinha foi o primeiro a descobrir isso. É claro que o Pulguinha roubou o extintor e ficou molhando todo mundo né?
Conseguimos nos controlar e entramos no primeiro quarto, eu, o Pulguinha e o Zelopim. O quarto era muito bem frequentado, com um menino lindo de maravilhoso e a mãe dele. Conversamos, soltamos bolhas de sabão, ajudamos a dar petelecos no soro pra acabar logo (tudo supervisionado por uma enfermeira, que fique bem claro! ahahahaha) e rimos muito!
O segundo quarto eram dois meninos também, que estavam dormindo, mas conversamos com os pais, enchemos o saco, soltamos bolha de sabão e o Pulguinha teve a brilhante idéia de fazer um duelo faroeste com um dos acompanhantes. Estaria tudo bem, se a arma do Pulguinha não fosse... o extintor. E claro, ele molhou todo mundo. Mas todo mundo MESMO: palhaço, pai, mãe, tio, criança, cama, mesa, banho, gato, cachorro e passarinho. No final, conseguimos controlar o Pulguinha e fomos embora em segurança (deixando os acompanhantes bem molhados, na verdade).
No terceiro quarto entramos meio tímidos, tentando controlar a euforia que tinha acabado de acontecer, e a paciente tava lá, quietinha, deitada, meio cabisbaixa, triste e sem querer muita conversa. Era uma menina linda, maior (uns 10 anos talvez) e meio na dela. Começamos a visita devagar, sondando o território. Soltamos bolhas de sabão, que se espalhavam lindamente pelo quarto por causa do vento. E ela lá, quietinha. Aí o Pulguinha perguntou se ela queria estourar as bolhas, mas ela disse que não. Então ele disse que tinha uma coisa muito legal pra estourar bolhas de sabão, e é claro que ela mudou de idéia e queria ver o que era. E é claro que era o bendito do extintor. Ela adorou a idéia de estourar as bolhas de sabão com o extintor. Pena que ela só estourou uma bolha e já mudou de alvo e começou a atirar no Pulguinha, que convenhamos, era um alvo muuuito melhor do que as bolhas. Depois de molhar ele inteiro, praticamente, não sei como, mas ele conseguiu recuperar o extintor e veio se vingar e molhou todo mundo de novo. E nessa de molhar todo mundo de novo, ele molhou o dedo mindinho do pé da paciente e saiu correndo pra fora do quarto. Eu fiquei pra trás e olhei pra ela, que disse: "aaah, é bom que refresca o calor". Dois segundos depois ela jogou as cobertas pro lado, sentou na cadeira e disse: "Eu vou levantar!". E saiu CORRENDO atrás do Pulguinha. Eu fui atrás, bem devagar pra não sobrar mais água pra mim e ouvi a mãe dela falando: "Foi a minha filha que passou por aqui? Eu acabei de sair do quarto e ela tava toda triste, não queria nem falar comigo e agora ela passa correndo assim na minha frente?"
E aí ela arrumou um copo de água e uma seringa de brinquedo que ela encheu de água e foi negociar com o Pulguinha: "Ou você me dá esse negócio, ou eu te jogo o copo d'água". Nem preciso dizer que ela ganhou né? Pegou o extintor E jogou o copo d'água no Pulguinha. E aí virou um parque aquático o hospital. Sobrou pra enfermeira, pro balcão, pra porta, pros outros acompanhantes (sim, todas as pessoas saíram de seus quartos pra verem o que estava acontecendo), pro chão... até que o Pulguinha entrou na sala da Doutora pra ver se ela parava. Mas não! Sobrou pra médica também, que não ficou brava como pensamos que ficaria e só disse, entre risos: "ué, você tá de pé???".
Por fim conseguimos controlar o parque aquático e fechamos o estoque de água (mentira, nós contrabandeamos silenciosamente o Pulguinha pra fora da Pediatria) e é claro que ela ficou com o extintor pra ela né? (Confesso: ninguém teve coragem de ir enfrentar a água pra pegar de volta o extintor). E o único aviso que a mãe deu: "Filha, pelo amoooor de Deus, não vai molhar as enfermeiras e o médico com isso não, hein?".
Depois dessa guerra molhada, fomos ver o lindo maravilhoso do Rick, que tá cada dia mais lindo... mas com péssimas companhias, hein? Cada enfermeiro lá que pelamoooor! (Brincadeira, seus lindos, nós amamos vocês!). Ficamos um milhão de horas lá falando um tanto de coisa que não fazia sentido e fomos pro segundo andar.
No segundo andar foram visitas rápidas por diversos motivos, (janta, cansaço dos pacientes, paciente dormindo e etc), conversamos com muita gente, contamos piadas sem graça, falamos de jogo de futebol, fizemos alguns exames, e no final, na última visita pra fechar com chave de ouro, conhecemos duas lindas que são muito mais engraçadas do que a gente! Até tentamos tratar a coluna de uma delas, mas não conseguimos descobrir o que a danada da coluna come! Foi divertidíssimo conversar com elas, e no final saímos de lá com a barriga doendo de tanto rir!

E quando terminei de tirar a maquiagem parecia que eu tinha sido atropelada por um trator. Mas foi tão TÃO compensador de saber que provavelmente a minha energia ficou com os pacientes, que eu estava feliz demais, apesar de cansada.

E no final só ficou um sentimento (acho que o sentimento foi partilhado por todos que visitaram): que quebrar as regras as vezes é bom. As vezes temos medo de fazer algumas coisas por medo de que alguém vai danar, vai falar mal, vai brigar com a gente, e continuamos na mesma. Eu acho que domingo passado eu fiz a pior arte de todas que eu fiz durante minha curta existência dentro de um hospital. Foi uma arte pra levar bronca mesmo, mas eu faria tudo de novo se a recompensa fosse ver um paciente triste, que não queria nem ir no banheiro, sair correndo e gritando e rindo e pulando que nem doido pelo hospital.
E, segredo: nós não levamos bronca!

Uma ótima semana pra todos!
E que essa alegria contagie..
E que não tenhamos medo de quebrar algumas regras de vez em quando...

Ósculos e amplexos,
Doutora Maria Pigriça.
:o)



A foto é antiga, viu?

3 comentários:

Adm. Blog disse...

Parabéns pelo trabalho de vocês, são verdadeiros anjos de luz!

InVerter Vertendo disse...

Parabéns pelo trabalho, admiro muito pessoas de iniciativa, continuem nessa jornada.

InVerter Vertendo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.